Terça-feira, 7 de Setembro de 2010

Mendigo

Dizem que está assim porque um dia viu um demónio, e que desde então quase nem fala e raramente sorri, apenas aquele sorriso rançoso e estranho característico dos loucos e dos bêbados. Poucos sabem que a sua mulher e as duas filhas encontraram também o mesmo demónio numa curva da estrada, e que diariamente o visitam desde o acidente. Uns dias cheira a bagaço, outros a vinho de pacote e, a sua vida num dia bom, é parecida a dez quilos de bosta num saco de cinco.
Por vezes vê-se deambular só pela rua, com o seu casaco de cor indefinida e os seus sacos do supermercado às costas, onde guarda a sua vida. Com o olhar perdido, observa os acontecimentos diante dos seus olhos, ou melhor, dentro da sua cabeça.
Outras vezes gosta de ir ao centro comercial, e passeia pelos intermináveis corredores até algum comerciante chamar o segurança para o tirar dali. Não é bom para o negócio.
Quando as crianças passam a seu lado, ele olha para elas e parece emergir nos seus olhos a memória, a pena, a maldição... Não anseia uma vida melhor, nem sequer se lembra como era. Tantos são os dias sem sentido que lhe calharam viver, que já fazem parte da sua desolação.
Uma destas noites vi-o a correr, com a cara toda esmurrada. Ia pelo meio da rua, descalço e sujo, enquanto gritava algo imperceptível, apenas compreensível por quem sofre da mesma doença. Acho que corria em busca duma curva, negra como a sua alma, onde um dia alguém lhe tirou o único que tinha.
Não se voltou a ver desde então. Acho que está à procura da forma de pagar nos dias que lhe restam pelas vidas que perdeu.
Espero que consiga.


Alma às 01:42
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Sábado, 1 de Maio de 2010

ADEUS

Hoje despeço-me de ti, das tuas recordações que tardavam em desaparecer, do amor que sentia por ti, das lágrimas que a cada noite derramei, da ansiedade que sentia ao pensar em ti, da intranquilidade...
Não me valorizaste, não me respeitaste, usaste-me descaradamente e foste tu quem deitou tudo a perder, mas a minha consciência está tranquila porque apenas te quis fazer feliz, com os meus enganos e erros, mas ninguém é perfeito.

Depois de tudo de mal que passei por ti e no poço sem fundo em que me encontrava, agradeço que tenhas passado pela minha vida, apesar de teres deixado o sabor mais amargo que se possa provar, deixaste-me algum ensinamento, aprendi a valorizar-me, a ver o mundo para além dos teus olhos, a perceber que há um mundo depois de ti.

Acabou! Agora sou a minha lei, a minha palavra, o meu corpo, sou eu. Não preciso de ti para ser feliz, mesmo que jamais te esqueça, não preciso de ti.
Sigo com a minha vida, que agora redescubro, tenho tanto para dar e tanto para receber.

Tenho pena não me despedir de ti convenientemente, olhos nos olhos, mas tu assim quiseste. Havia muitas coisas por dizer, umas boas outras nem por isso.

Espero do fundo do coração que te consigas tratar e que encontres alguém que te faça feliz.

Por ultimo, despeço-me para sempre da pessoa que deixaste caída, da qual apenas restavam pedaços, a que deixou tudo por ti.

ADEUS


Alma às 23:48
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Domingo, 25 de Abril de 2010

Tudo muda

Tudo muda com o tempo.
A forma de pensar que tinha há 10 anos não é a mesma com que penso hoje.
Mudam os sentimentos, mudam os gostos, os desejos, os sonhos...
Mudam os amigos, as necessidades, muda a família...
No entanto a mudança que mais influenciou a minha vida, nem sempre a vejo... a minha mudança pessoal, o modo de interacção com o mundo.
Tudo muda com o tempo...
Tudo muda com as nossas mudanças.


Alma às 22:29
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Segunda-feira, 19 de Abril de 2010

Sinto a tua falta

Sinto muito a tua falta!
Talvez não sinta falta de ti mas sim do que me fazias sentir.
Sinto falta dos momentos, da ilusão da espera, dos rituais antes de te ver.
E penso que sinto a tua falta...
Talvez não sinta falta de ti porque poderias ser qualquer uma, e fazer-me sentir o mesmo, a mesma vontade de te ver, de te sentir, de te tocar...
Sinto falta de alguns sonhos que sem ti não existem,
Sinto falta da esperança de um novo dia igual a tantos outros,
Sinto falta das borboletas que voavam nas minhas entranhas.

Sabes?
As borboletas ainda existem mas estão cansadas, já não voam como antigamente, aceitaram a nova condição de borboletas sem asas.
Passam o dia adormecidas e à noite...

Nessas noites em que sinto a tua falta, quando te procuro e não te encontro, quando duvido que tenhas sido tão real, quando realidade e imaginação se unem, quando a minha loucura me domina e te chamo silenciosamente.

Sim, sinto a tua falta!


Alma às 22:38
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Sábado, 17 de Abril de 2010

Um horizonte de possibilidades

Fecho os olhos e estou numa praia deserta.
Sentado na areia, os pés dispostos a sentir as ondas que, mais atrevidas, decidem rebentar perto.
O meu olhar perde-se no horizonte, onde ainda estão abertas todas as possibilidades.
Sinto o vento quente nas costas nuas, sinto como acaricia a minha pele.
Pego um punhado de areia e sinto como se me escapa por entre os dedos.
Por vezes, também permiti que momentos bons da minha vida se escapassem assim, sem fazer nada para alterar o rumo...
Respiro profundamente, tentando absorver todo o ar que me rodeia. Talvez queira respirar também o calor do sol que já toca a água, lá longe, onde apenas chega a minha imaginação.
Aí, o sol vai-se apagando com a água. Também a água ferve e evapora ao tocar o sol.
Vejo como nascem as primeiras estrelas...
Penso que a água ao evaporar levou pequenos pedaços de sol até ao céu e assim nasceram essas pequenas estrelas.
O vento já não é tão quente.
Começo a sentir frio e abraço-me.
Levanto-me, disposto a terminar o dia.
Abro os olhos.
O sol ainda brilha.
Não há estrelas.
Ainda tenho tempo para voltar a fecha-los ou para me fazer ao mundo e ser feliz.
Apenas tenho de encontrar as chaves!


Alma às 22:37
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Quarta-feira, 14 de Abril de 2010

A busca

Vasculhei todo o quarto, passando pelo espelho, o armário e pelas minhas mãos.
Levantei a almofada e sacudi os meus sonhos.
Abri cada porta, gaveta e caixote.
Destapei o guarda-jóias e as caixas de musica.
Desmontei a televisão, as cadeiras e as minhas entranhas.
Espreitei debaixo da cama, entre os lençóis, por cima da cómoda, por detrás das tuas fotos.
Remexi as minhas palavras, as minhas promessas e os meus Sábados...
mas não te encontrei... apenas o teu cheiro que perdura no pijama.


Alma às 23:41
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Quarta-feira, 2 de Setembro de 2009

Acabar com a agonia

É o fim, o final de tudo, acabar com esta agonia que afoga dia-a-dia. Um passo difícil de tomar, mas decisivo, sem retorno, irreversível. Sem mais atalhos, sem caminhos enganados, agora tudo é claro, começa a minha escuridão. O final de tudo, de alegrias e medos de choros, da dor que tem sangrando as minhas veias, arrancando a minha pele aos pedaços sem piedade. Agora, finalmente sinto que tudo passou, que me devo deixar levar, abandonar esta sensação, deixar fluir a minha vida. Fechar os olhos, sem pensar, sem sentir, sem chorar, sem gritar, não sofrer tantos anos que perdi a razão. É o fim... o meu fim...


Alma às 15:57
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Domingo, 30 de Agosto de 2009

Quero ser normal

Não há nada que eu mais queira neste mundo que ser normal...
Normal e não ter de discutir com ninguém porque estamos sempre de acordo...
Normal e não ter de pensar se realmente estou a fazer as coisas bem...
Normal e sair aos fins-de-semana e divertir-me...
Normal e ter amigos com quem falar...
Como gostaria de pensar o que todos pensam, não ter de argumentar tudo o que digo, ser normal e não pensar tanto, de não me sentir só estando rodeado de muita gente... essa normalidade com a qual não concordo.


Alma às 22:55
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A solidão

A solidão absoluta não é a total ausência de gente à nossa volta, ficando sempre a esperança que algum dia a haja. A solidão absoluta é a provocada pela incompreensão, aquela que estando rodeado de gente vemos que ninguém, absolutamente ninguém nos percebe. É o vazio, o maior deserto do mundo, o quarto fica imensamente grande e sentimos o coração esmagado e pensamos: Será que alguém me vê? Haverá alguém que tenha reparado que tenho razão? Tem algum sentido o que digo? Alguém se terá posto a pensar se, realmente, vale a pena ouvir-me?


Alma às 00:03
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Terça-feira, 11 de Agosto de 2009

Alguém me entende?

Vi esta noite que a tua luz já não brilha, que o teu coração já não é o que era. Ouvi-te chorar e não gosto nada. Deixa de pensar constantemente em todo o mal que te fez, deixa de pensar nas coisas que já não têm solução, deixa que o tempo apague tudo aquilo que não serve para a tua cabeça, deixa que o tempo vá pelo seu caminho e escolha o melhor. Se isto está a acontecer é porque tem mesmo de acontecer, para despertar o sexto sentido, para saber reagir. Vi como as lágrimas percorriam a tua face e até pude sentir o que ninguém pode ver, senti como sofrias em silencio e como já vias que tudo está perdido. Deixa-te levar pelas tuas emoções e deixa que nós tomemos o controlo, fala-te a tua mente e o teu coração.


Alma às 23:39
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Sábado, 11 de Julho de 2009

O paradoxo da minha casa

Viver só é um pau de dois bicos... Já lá vão mais de três meses em que vivo unicamente com a companhia da minha cadela, a B, e adoro. Agora, passados alguns meses, de quando em vez sinto-me só. Por isso é que digo que é um pau de dois bicos. Gosto de chegar a casa e não ter de dar explicações de nada a ninguém, gosto de fazer as coisas à minha maneira e não discutir com ninguém qual o canal ou o filme que vou ver esta noite. Mas algumas noites chego a casa, depois de estar horas com os amigos a falar de tudo... necessito alguém, tenho saudades de ter alguém. Alguém com quem falar, com quem discutir, sinto saudades dos dias em que a comida não era do meu agrado.

Adoro estar só, o meu espaço... tudo, no entanto não sou uma pessoa para ser individual. Adoro pôr a mesa para dois, acordar e ver que não estou só, e ao acabar o filme dizer "o final não é grande coisa". Não sirvo para estar só, mas adoro a solidão. Vivo sendo um pensando em ser dois, e quando somos dois, quero ser um.

Algum dia encontrarei a pessoa com quem realmente sejamos dois, e ao mesmo tempo um. Ou não...

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Alma às 03:38
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